O estado de crise sanitária, instaurado pelo alastramento da pandemia provocada pelo vírus COVID-19, alterou profundamente diversos aspectos da sociedade e das lidas cotidianas. O meio jurídico não foi uma exceção entre os afetados. Neste artigo, trataremos justamente das modificações causadas por esse cenário, principalmente no que toca à Controladoria Jurídica. Acompanhe.
Uma das principais estratégias para diminuir o número de contágios pelo vírus foi o distanciamento social. Dessa maneira, foi, então, necessário desenvolver formas de atuação que permitissem cumprir as regras de isolamento, garantindo a saúde dos profissionais.
Assim, o teletrabalho, também chamado home office, ganhou destaque e as reuniões, atendimentos e até mesmo julgamentos feitos através da web viraram a regra geral.
A área de controladoria jurídica também precisou se reinventar e encontrar, através de ferramentas de comunicação, a forma mais adequada de cumprir suas funções. Além disso, por seu próprio papel, acabou, de certa forma, abraçando novas demandas geradas pela implementação das atividades a distância no funcionamento dos escritórios.
Para isso, a inteligência artificial acabou ganhando ainda mais espaço no auxílio ao desenvolvimento do trabalho da controladoria, ajudando a consolidar a advocacia 4.0, ou seja, o novo paradigma de atuação do advogado, que passa a se valer de diversas tecnologias em seu trabalho.
A advocacia 4.0 e a inteligência artificial
Advocacia 4.0 pode ser entendida como a forma de inserir as diversas tecnologias no trabalho jurídico de forma a torná-lo mais eficiente e menos custoso. Entre essas novas ferramentas encontra-se a inteligência artificial.
O conceito de inteligência artificial atrela-se à capacidade de certas máquinas e programas de executar tarefas difíceis e complexas que, até então, requeriam a atividade humana. Esses softwares também possuem a capacidade de apreender e evoluir a execução de sua tarefa.
Um dos usos possíveis na controladoria jurídica é a implementação da inteligência artificial na consideração de estatísticas. Assim, conciliada a dados e técnicas advindas da jurimetria, a inteligência artificial pode apresentar impactos significativos nos resultados, diminuindo os custos de operação.
Assim, ela pode auxiliar desde as tarefas mais simples, como a organização de agendas e tarefas com alertas para a proximidade dos prazos a serem cumpridos, como também na análise de dados de forma muito mais eficiente, como, por exemplo, em auditorias documentais ou levantamento de informações financeiras.
Nota-se ainda que não se trata da substituição da figura do controller jurídico. Esse profissional ainda é central na gestão de escritórios e, por conseguinte, na garantia do processo jurídico. A inteligência artificial é mais um instrumental a serviço e auxílio do corpo jurídico das instituições que optam por abraçar a tendência da advocacia 4.0.
Dessa maneira, no contexto da pandemia, no qual as tecnologias de informação alcançaram um papel central em muitas atividades, a inteligência artificial e outras ferramentas da advocacia 4.0 se destacam como suporte para a controladoria jurídica, que também sofreu impactos diretos em seu papel.
A controladoria jurídica e a pandemia
Se nos escritórios que contam com esse tipo de setor seu papel já era primordial para a qualidade do trabalho, com o advento da pandemia ele se tornou ainda muito mais representativo frente as novas necessidades.
Indo muito além de garantir a perfeita execução dos prazos e orientar as tarefas a serem realizadas, os setores de controladoria se revestiram ainda mais do papel de oferecer segurança e informação aos diversos agentes envolvidos nos processos jurídicos e nas atividades dos escritórios, como advogados, técnicos e principalmente clientes.
Em muitos casos, a controladoria ainda precisou se envolver e se preocupar com a qualificação de outros profissionais e parceiros para atuarem com as novas tecnologias que, no cenário da pandemia, obrigatoriamente precisaram ser utilizadas como ferramenta para a execução dos trabalhos.
Felizmente, ao que tudo indica, a crise sanitária está chegando ao fim, com a vacinação alcançando quase todos os brasileiros. No entanto, isso não significa um abandono das tecnologias que tiveram de ser adotadas durante o período. Muito pelo contrário, o expediente pós-pandemia parece requerer cada vez mais a implementação desses recursos.
A advocacia 4.0 no pós-pandemia
Uma das palavras de ordem, que vinha já desde antes da pandemia, explodiu com ela, e parece que irá continuar mesmo depois: trata-se o home office, ou teletrabalho. Mesmo com o fim da obrigatoriedade imposta pelo isolamento social, esse novo regime não parece que irá perder força de forma geral, inclusive nos escritórios de direito.
De acordo com uma pesquisa realizada pela IBM, uma grande parte dos trabalhadores pretende e deseja continuar trabalhando de maneira remota mesmo após a pandemia. Nessa pesquisa, mais de 80% dos entrevistados afirmaram que irão continuar trabalhando em regime remoto depois do fim das medidas sanitárias restritivas.
Em contrapartida, para os empregadores isso também representa um bom número de vantagens, uma vez que trabalhadores nesse tipo de regime, além de custarem menos, também tendem a apresentar melhores rendimentos.
A controladoria jurídica sendo um trabalho, em geral, burocrático, é um dos eleitos preferidos para se manter em home office. No entanto, a necessidade de reuniões e presença nos escritórios provavelmente levará a um modelo misto, no qual passa a existir um revezamento entre teletrabalho e trabalho presencial, porém, ainda privilegiando o primeiro.
Apesar de esse ser o ponto central no pós-pandemia, as atividades remotas também devem continuar acontecendo em outras atuações, como treinamentos internos, cursos de qualificação e outras atividades nas quais a controladoria se envolve.
Vale ressaltar ainda que, apesar dessa tendência, muitos escritórios devem retomar o trabalho presencial, utilizando o teletrabalho somente como exceção. Isso deriva tanto da tradição quanto de certa resistência à implementação das novas tecnologias, principalmente em termos de investimento financeiro.
Mesmo assim, também haverá cada vez mais escritórios digitais que nem mesmo terão um local de atendimento físico para os clientes, sendo esse realizado em salas alugadas periodicamente ou mesmo em espaços do cliente, como sua própria casa ou escritório.
Além disso, torna-se ainda mais comum o atendimento de clientes em outros estados, contando com a atuação de representantes legais na cidade da ação.
Todos esses cenários acabam por impor novos desafios ao trabalho da controladoria jurídica, que precisará se adaptar e encontrar na tecnologia e na criatividade os caminhos para superar os obstáculos do mundo pós-pandemia.